Imigração: Organização, Sinceridade e Respeito

Após longas horas dentro de um avião, chega talvez a etapa mais temida por muitas pessoas em uma viagem internacional: passar pela imigração. Esse momento causa receio porque muitos enxergam a imigração como um possível problema na viagem. É normal ouvirmos relatos desagradáveis de pessoas que tiveram problemas na imigração. Não posso julgar ninguém sem realmente saber os fatos, mas muitas vezes esses problemas são causados por falta de documentação, esclarecimentos e más intenções.

Eu não vou negar: também sinto um certo medo da imigração. Só fico realmente tranquila depois que passo pela imigração. Nunca tive grandes problemas , mas já passei e vivenciei algumas situações que acho importante relatar para vocês. Toda experiência é válida. 

O objetivo deste texto é ajudar aqueles que estão viajando legalmente, seja a turismo, trabalho ou estudo, e que têm a intenção de retornar ao seu país de origem. Se você está cumprindo todas as regras, não há motivo para temer a imigração. Sim, imprevistos podem acontecer, mas com organização, planejamento,  sinceridade e respeito, as chances de enfrentar dificuldades são muito pequenas.

Muita atenção. Tenha respeito pela imigração. Cada país tem suas próprias regras, e nós, como visitantes, devemos segui-las. A imigração é um lugar onde a ordem deve ser respeitada. Os agentes de imigração estão ali protegendo seus países.  Eles vão fazer perguntas e verificar documentos por razões legítimas e respeitar esse processo é essencial.

Antes da Imigração

Organize todos os documentos que vão te permitir entrar no país desejado e que possa comprovar sua intenção de retornar a seu país. 

  • Tenha um passaporte válido. Verifique o período de validade que cada país exige.
  • Se o país exigir, tenha o visto válido para o seu tipo de viagem (turismo, trabalho, estudo, conexão, etc.).
  • Passagem de ida e volta.
  • Comprovantes de hospedagem.
  • Provas de que você tem recursos financeiros suficientes para a viagem (cartão de crédito ou débito, cópia do imposto de renda, comprovante de salário, etc).
  • Leve sempre um pouco de dinheiro em espécie, mas verifique o limite permitido para entrada no país.
  • Tenha todos os documentos impressos e organizados em uma pasta, de forma a localizá-los com facilidade.

Nunca coloque documentos importantes na mala a ser despachada. Você só terá acesso às malas após passar pela imigração. 

Se for colocar a documentação na mala de mão, fique muito atento. Se por acaso sua mala tiver que ser despachada por falta de espaço no avião, você ficará sem seus documentos porque, assim como a mala despachada, você só receberá a mala de mão depois da imigração. 

Leve os documentos em uma bolsa ou mochila e sempre tenha ela em vista.

Ao desembarcar, já tenha a pasta com a documentação em mãos. Uso de aparelhos eletrônicos não costumam ser bem vistos na área de imigração. Também não é legal ficar mexendo em bolsas.

Durante a fila da imigração, evite mexer no celular, abrir bolsas ou agir de forma que possa gerar suspeitas. Os agentes estão sempre observando.

Conduta Durante a Entrevista

  • Seja educado e responda às perguntas com clareza e sinceridade.
  • Caso não entenda algo, peça para repetirem.
  • Demonstre respeito pelo processo e pelo país que está visitando.

A imigração pode ser um momento tenso, mas, se você estiver bem preparado e seguir essas orientações, a passagem por essa etapa será muito mais tranquila.

Agora vou compartilhar algumas experiências que vivi e observei na imigração, que me ajudaram a entender melhor esse processo e a me preparar cada vez mais para futuras viagens.

A Vez Que Mais Tive Medo da Imigração

Uma das situações em que mais senti medo de ter problemas com a imigração foi quando fiz um intercâmbio de três meses em Cambridge, na Inglaterra. 

Na época, eu já tinha 30 anos, era solteira e trabalhava como arquiteta autônoma, ou seja, não tinha um emprego fixo para o qual precisaria retornar. Esse perfil – solteira, mais velha e sem vínculo empregatício estável – poderia levantar suspeitas sobre uma possível intenção de permanecer no país.

Ciente disso, me preparei muito bem. Como eu estava indo para estudar, solicitei à escola uma carta confirmando minha matrícula e o período do curso. Também levei a carta de acomodação, comprovando que já tinha onde ficar. Além disso, carregava comigo a passagem de ida e volta, meu imposto de renda para comprovar renda própria e até documentos do meu pai, mostrando que ele também tinha condições financeiras para me ajudar, caso necessário.

Enquanto esperava na fila da imigração, conversei com uma moça que dizia que estava viajando para fazer intercâmbio de um mês em Londres. Com poucos minutos de conversa percebi que ela não estava tão preparada para passar na imigração como eu. 

Primeiro, ela disse que os documentos da escola estavam na mala despachada, o que era um grande problema, pois a mala só seria retirada após a imigração. O correto é sempre carregar esses documentos na bagagem de mão ou, melhor ainda, em uma bolsa ou mochila que fique com você o tempo todo.

Além disso, ela contou que ficaria na casa de amigos, então não tinha uma reserva de hospedagem paga. Outro ponto estranho é que ela não tinha passagem de volta, pois ainda não havia decidido quando retornaria. Apenas com essas informações, percebi que ela enfrentaria dificuldades. 

Quando chegou minha vez na imigração, me encaminhei para a cabine indica e, ao mesmo tempo, a moça foi encaminhada para outra cabine.

O agente da imigração me perguntou o motivo da viagem, e eu respondi que estava indo estudar. Ele pediu o nome da cidade e, prontamente, já entreguei a carta da escola. Ele perguntou onde eu ficaria, e novamente apresentei a carta de acomodação. Perguntou o tempo de estadia e eu informei que seriam três meses. Respondi tudo com sinceridade, e passei sem qualquer problema.

Quando eu passei pela imigração vi que a moça ainda estava na cabine, aparentemente nervosa, e havia solicitado um tradutor. Não sei o que aconteceu depois, mas acredito que a falta de documentos e de comprovação da intenção de retorno ao Brasil tenham dificultado a entrada dela no país.

Um Momento de Distração e Inexperiência

Outra experiência que tive foi durante essa mesma viagem de intercâmbio. Depois de três meses na Inglaterra, fiz algumas viagens dentro do país e também para outros destinos na Europa. 

Fui a Paris e Amsterdã com a escola e tudo correu bem, pois estávamos em grupo e a escola providenciava todos os esclarecimentos para a imigração, principalmente porque todos que estavam na excursão eram alunos matriculados na escola.

No entanto, na minha última semana de intercêmbio, fui para Berlim com uma amiga e cometi um grande erro ao voltar para a Inglaterra.

Eu estava tão acostumada com o país que não me atentei ao fato de que, ao retornar, passaria pela imigração inglesa.

Acho que pelo fato de só faltar uma semana para o fim do meu intercâmbio – eles tinham o registro da minha primeira entrada –  o agente da imigração me questionou bastante. Ele perguntou quanto tempo eu ficaria, e eu respondi que ficaria mais 10 dias. 

Durante minha estadia na Inglaterra, meus pais decidiram que “iriam me buscar”, e eu acabei precisando estender minha viagem por mais alguns dias na Inglaterra.

Isso até que não seria problema. O problema foi que eu não tinha a passagem de saída da Inglaterra comigo. Nem a antiga, nem a nova. A antiga eu realmente tinha esquecido de levar e a nova estava com meu pai, já que ele havia comprado no Brasil e traria quando chegasse. Então, quando o agente pediu a passagem, eu expliquei a situação. DIsse que as passagens estavam com meus pais e que depois de alguns dias em Londres iríamos para a França e depois para Itália antes de retornar ao Brasil. Ele perguntou quando meus pais chegariam e eu falei a data. Ele disse que não havia voos do Brasil para a Inglaterra chegando na data que informei. Como eu estava falando a verdade, expliquei que o voo dos meus pais chegava em Amsterdã e de lá pegariam outro voo para Londres. Depois de checar os dados, ele viu que o voo realmente existia e me liberou.

Essa situação me ensinou a importância de sempre carregar documentos que comprovem a viagem, principalmente a passagem de saída do país. Hoje em dia, com tudo digital, é mais fácil acessar essas informações, mas na época, eu realmente não tinha nada em mãos. Foi um descuido que poderia ter causado um grande transtorno.

No final, tudo deu certo, mas essas experiências reforçaram a necessidade de organização e planejamento ao passar pela imigração.

Depois disso, viajei várias vezes sem nenhum problema com a imigração. 

Quando Um Visto Válido Quase Foi Um Problema

Outro momento em que presenciei um problema com a imigração foi com a minha irmã, Juliana. Na verdade, não chegou a ser um problema, mas serve como um alerta importante sobre algo que desconhecíamos na época.

Em 2023, viajamos para Orlando no Estados Unidos. Eu possuía um passaporte brasileiro com visto válido, tudo regularizado, e minha irmã também tinha um passaporte brasileiro com visto americano válido. No entanto, ela havia acabado de obter a cidadania portuguesa, pois seu marido e filhos já são cidadãos portugueses, e a lei permitiu que ela adquirisse a nacionalidade.

Para essa viagem, ela optou por usar o passaporte português, que não exige visto para os Estados Unidos, mas requer o ETA (Autorização Eletrônica de Viagem). Ela preencheu o formulário, pagou a taxa e levou o documento junto ao passaporte português.

Ao chegarmos na imigração americana, passamos juntas por sermos irmãs, o que é permitido. Entreguei meu passaporte brasileiro, e ela, o português. O agente da imigração conferiu os documentos e perguntou se ela tinha um passaporte brasileiro. Ela confirmou e entregou o passaporte a ele. Ele explicou que, enquanto o visto no passaporte brasileiro estivesse válido, ela deveria obrigatoriamente utilizá-lo para entrar nos Estados Unidos. Somente quando o visto expirar é que ela poderia entrar com o passaporte português.

O alerta aqui é porque, muitas vezes, pode acontecer do passaporte expirar antes do visto americano, ambos tem validade de 10 anos. Nesse caso, é necessário viajar com os dois passaportes: o novo (passaporte válido) e o antigo, onde consta o visto válido. Isso acontece frequentemente comigo, pois há uma diferença de cinco anos entre o vencimento do meu passaporte e do visto, o que me obriga a carregar ambos durante esse período.

No caso da minha irmã, poderia ter tido problema, se ela tivesse um passaporte brasileiro novo e o visto americano estivesse em um passaporte antigo que ela não tivesse levado. Felizmente, como o passaporte brasileiro dela ainda estava válido, não houve dificuldades. Em todas minhas viagem, além do passaporte válido, sempre levo o último passaporte vencido, pois acho que ele pode ser útil para comprovar viagens anteriores.

Quando Eu Realmente Fiquei Com Medo de Não Passar na Imigração

Outro episódio ocorreu no início de 2024, quando levei meu sobrinho Guilherme para uma viagem internacional. Levei meus 3 sobrinhos para viajar quando cada um completou 15 anos.

Para sair do Brasil com um menor desacompanhado dos pais, é necessário apresentar uma autorização assinada por ambos os responsáveis (com firma reconhacida), conforme modelo da Polícia Federal ou o menor tem que ter uma autorização registrada no passaporte no momento da confecção deste.

Com minhas duas sobrinhas mais velhas, o processo foi tranquilo. Minha irmã e meu cunhado fizeram a autorização, que foi aceita na Polícia Federal. Atenção: você precisa de duas cópias porque uma fica retirada na Polícia Federal e a  imigração do país visitado pode pedir para ver a autorização. No caso da minha sobrinha mais velha, a Beatriz, a autorização foi solicitada na entrada na Inglaterra. Na França não foi solicitada. No caso da minha sobrinha do meio, a Cecília, não pediram a autorização nem na Inglaterra, nem na Itália. Em ambos os casos, mesmo elas tendo levado o passaporte português, as duas usaram o passaporte brasileiro durante a viagem, já que a autorização estava relacionada ao passaporte brasileiro.

No caso do Guilherme, utilizamos um procedimento diferente: como ele renovaria o passaporte antes da viagem, seus pais optaram por incluir a autorização diretamente no novo passaporte. Assim, ele poderia viajar sem necessidade de um documento separado.

Saímos do Brasil e entramos na Inglaterra sem problemas, apresentando a autorização no passaporte. O problema surgiu ao entrar em Portugal. Guilherme também tem cidadania portuguesa e possui passaportes de ambos os países. Como sempre fazia, optamos por usar o passaporte brasileiro, pois ele só tinha a autorização no passaporte brasileiro.

Porém, ao entregar o passaporte brasileiro, o agente da imigração perguntou pela autorização e, ao vê-la no passaporte, disse que “não valia”. Ele não deu mais explicações, apenas repetia que não era válida.

Nesse momento, entrei em pânico, pois não sabia como resolver a situação. Juro que eu só pensava naquele filme “O Terminal” do Tom Hanks que o personagem dele fica retido no aeroporto por não conseguir entrar no país de destino.

Como alternativa, entregamos o passaporte português do Guilherme, e o agente então permitiu a entrada, dizendo que, como ele era português, ele tinha que entrar com o passaporte português. Perguntei como o Guilherme sairia de Portugal se a autorização estava no passaporte brasileiro. Temos que sair de um país com o mesmo passaporte que entramos. Ele disse que, realmente, poderíamos ter problemas na saída, pois precisaríamos de uma autorização dos pais para ele sair de Portugal com o passaporte português. Ele disse que poderíamos tentar explicar a situação ao agente da saída da imigração, mas ia depender da decisão do agente.

Como eu poderia deixar para resolver a situação da hora da saída sem nenhuma certeza que daria certo e que poderíamos retornar ao Brasil?

Ao passar da imigração, liguei imediatamente para minha irmã no Brasil. Ela tentou entrar em contato com o consulado português em Belo Horizonte, mas o consulado estava fechado por causa das festas de final de ano.

Ela conseguiu falar no consulado dois dias depois, mas não teve como resolver o problema. O consulado informou que isso era uma questão da Polícia Federal, então a única saída era uma autorização, e que tinha que ser a original.

Então, minha irmã providenciou a autorização autenticada no cartório – com autenticação internacional de Haia –  em tempo recorde, uma autorização internacional autenticada em cartório. 

Mas agora tinha um novo problema. O desafio era enviar o documento a tempo. Estávamos voltando em 2 dias.

Companhias aéreas não levam nenhum tipo de documento ou pacote e os serviços de transporte levavam alguns dias, mesmo na opção de urgência. Nada que chegasse no dia seguinte.

Por sorte, nossa prima conhecia uma pessoa que embarcaria para Portugal naquela noite e aceitou levar a documentação. 

Aqui gostaria de destacar que temos que ter muito cuidado ao levar documentos e pacotes para outras pessoas. É preciso conhecer o conteúdo. Em caso de dúvidas, é melhor negar.

Minha irmã levou a autorização para a pessoa no aeroporto e mostrou o documento.

No dia seguinte, busquei o envelope no aeroporto.

Deu tudo certo. Na hora da saída, a oficial de imigração aceitou a autorização sem questionamentos. Ele inclusive verificou que tinha a autenticação de Haia.

Mas a questão ainda não estava clara para mim. Por que não aceitaram a autorização do passaporte brasileiro?

Depois de muito pesquisar e consultar agentes de turismo, um amigo nosso descobriu que cidadãos portugueses devem obrigatoriamente entrar em Portugal com o passaporte português, independentemente de possuírem outra nacionalidade. O agente da imigração não explicou isso, apenas dizia que não valia.

Fica a lição: quem possui dupla cidadania deve verificar as regras de entrada e saída de cada país e, principalmente, dos país que você tem cidadania. Essa experiência foi estressante, mas serviu de aprendizado para futuras viagens.

Conclusão

Passar pela imigração pode, sim, ser um momento de tensão, mas com preparação adequada, respeito às normas e atenção aos detalhes, essa etapa se torna muito mais tranquila. As experiências que compartilhei mostram que cada situação é única e que, muitas vezes, pequenos descuidos podem gerar grandes transtornos. Por isso, planejamento é essencial — desde a organização de documentos até o entendimento das exigências específicas de cada país e da própria condição do viajante, como no caso de quem possui dupla cidadania ou viaja com menores de idade. Que essas histórias sirvam de alerta e orientação para todos que desejam viajar legalmente e com tranquilidade. Afinal, conhecer novas culturas deve ser uma experiência positiva do começo ao fim — e isso inclui passar pela imigração com segurança e confiança.

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