Minha Experiência com o Intercâmbio aos 30 Anos: Como Viajar Sozinha Transformou Minha Vida

Sem nenhum exagero, eu digo que o intercâmbio que fiz aos 30 anos de idade mudou a minha vida…

Quando adolescente, vi muitos amigos fazerem intercâmbio durante o colégio. Nos anos 90, era comum que jovens com boas condições financeiras fossem estudar no exterior, principalmente nos Estados Unidos, para cursar um ano letivo do 2º grau (atual ensino médio) e aprender inglês.

Vi colegas embarcarem nessa aventura, que, aos meus olhos, parecia um loucura. Eu era tímida e insegura, e, embora meus pais pudessem me proporcionar essa experiência, o medo de ficar um ano longe da família, em um país desconhecido, onde não falavam minha língua, me paralisava. Naquela época, a comunicação era complicada – telefonemas internacionais eram caros e cartas demoravam semanas para chegar. Além disso, inglês nunca foi minha matéria favorita na escola. Na verdade, era uma das que eu menos gostava, perdendo apenas para biologia.

Por essas razões, nunca considerei fazer intercâmbio.

Concluí o ensino médio, cursei Arquitetura e Urbanismo e comecei minha carreira como arquiteta autônoma.

O tempo passou, e aos 30 anos, me vi presa a uma rotina que já não me fazia feliz. Sentia uma insatisfação crescente com minha vida e carreira, e precisava de algo novo, um desafio que me fizesse enxergar além do que eu conhecia. A ideia do intercâmbio surgiu como uma oportunidade de mudança, um meio de conhecer novos lugares e aprender inglês, o que poderia abrir portas para novas oportunidades profissionais.

Os medos da adolescência ainda estavam presentes, agravados pela ideia de que intercâmbio era algo para jovens. Mas eu precisava tentar.

A incerteza de viajar sozinha era grande. Nunca havia feito uma viagem internacional sozinha e não sabia o que esperar. Será que eu conseguiria me adaptar? E se meu inglês não fosse suficiente? Como seria ficar longe da família e dos amigos por tanto tempo? Apesar do frio na barriga, algo dentro de mim dizia que essa era a decisão certa. Hoje, olhando para trás, vejo que foi a melhor escolha da minha vida.

Entre dúvidas e incertezas, ajuntei todas as minhas economias, fiz as malas e embarquei. Claro que não foi tão imediatista assim. Pesquisei muito até me decidir para onde ir. Escolhi Cambridge, na Inglaterra, cidade pela qual me apaixonei ao ver fotos nos catálogos de intercâmbio. Parecia uma cidade calme e era próxima a Londres. Optei, por questões financeiras, por um curso de inglês de três meses e por morar em uma residência estudantil (casa de família não me agradava muito).

Um Novo Começo em Cambridge

Cambridge me acolheu de braços abertos. Desde os primeiros dias, fui envolvida pela atmosfera única da cidade: ruas de paralelepípedos, prédios históricos, cafés aconchegantes e uma energia vibrante de estudantes do mundo todo. Estudar inglês ali não era apenas sobre aprender um idioma, mas também mergulhar em uma nova cultura, conhecer pessoas incríveis e me redescobrir.

Na escola de idiomas, conheci alunos de diversas partes do mundo, cada um com sua própria história. Fiquei surpresa ao perceber que não era a única adulta em busca de mudança. Apesar da grande maioria dos alunos serem adolescentes, conheci pessoas na mesma situação que eu – algumas querendo melhorar o inglês para crescer profissionalmente, outras buscando recomeços. Isso me fez sentir pertencente, percebendo que nunca é tarde para viver uma nova experiência.

De algumas pessoas eu nunca vou me esquecer. A Carol, uma amiga que esteve ao meu lado durante os 3 meses, se transformou de uma adolescente tímida que tinha acabado de sair da escola para uma moça decidida. O esforço da Paty que viajou para aprender inglês a pedido da empresa que trabalhava era admirável. Também não me esqueço do Kogi – um japonês casado, pai de dois filhos que deixou a família no Japão para aprender inglês e melhorar no emprego quando retornasse. Eu conversava muito com ele durante as aulas. Eu nunca soube se ele entendia direito os meus casos, assim como eu não tinha certeza se eu estava entendo os casos que ele me contava (kkkk). Tinha também uma espanhola, que esqueci o nome, que já tinha mais de 50 anos e estava lá apenas pelo fato de querer aprender inglês. 

A cada aula e conversa no intervalo, minha confiança crescia. No início, hesitava em falar inglês por medo de errar, mas logo percebi que todos estavam ali para aprender. Com o tempo, fui perdendo o receio de tentar coisas novas – algo que antes me limitava.

Confesso que meu inglês não evoluiu muito (eu precisava de mais tempo), mas descobri que meus anos de inglês no Brasil não tinham sido em vão. Eu achava que meu inglês era péssimo e logo me surpreendi ao ser colocada em uma turma de nível intermediário. Logo descobri que, mesmo com toda a minha timidez em falar (sou contida para falar até em português) eu conseguia ser entendida. Era bom também saber que eu entendi bem as pessoas também. Está certo que na escola os professores e funcionários falavam mais devagar, mas mesmo fora da escola, eu compreendi e fui compreendida também.

Só para vocês terem uma noção de como consegui “me virar” com meu inglês, eu resolvi o problema do aquecedor quebrado do meu quarto, fiz reserva de de hotel por telefone, resolvi o problema de uma colega que na casa onde ela estava morando e consegui explicar minha situação na imigração inglesa (essa eu conto depois, em outro post, com mais calma).

Vencendo o Medo de Viajar Sozinha

Antes de embarcar, viajar sozinha me assustava. Mas essa experiência me mostrou o quanto estar comigo mesma poderia ser enriquecedor. Nos momentos livres, explorava a cidade sem pressa, descobrindo cantos escondidos, experimentando comidas típicas e aprendendo a aproveitar minha própria companhia.

Apreciei esses momentos e aprendi a observar melhor o mundo ao meu redor. Essa mudança de perspectiva foi essencial para as viagens que fiz durante o intercâmbio. Muitas vezes, tive a companhia de amigos da escola, mas, assim como eu, todos estavam aprendendo inglês.

Nos fins de semana, explorei outras cidades da Inglaterra. Fui a Londres, passei horas caminhando pelo centro, me perdendo entre museus e palácios e me descobrindo no metrô. Visitei Oxford, Bath, Windsor, Ely… E, em cada cidade, a mesma sensação de conquista: eu estava ali aproveitando tudo o que o mundo tinha a oferecer. Cada viagem era uma prova de que eu era mais forte e independente do que imaginava.

Também visitei cidades em outros países: Amsterdã, Edimburgo, Berlim e Paris.

Descobrindo Novas Possibilidades

Além de aprender inglês e perder o medo de viajar sozinha, o intercâmbio me trouxe algo ainda mais valioso: novas perspectivas de vida. Antes da viagem, sentia-me estagnada e sem motivação. Mas estar em outro país, cercada por culturas diferentes, me fez enxergar além das limitações que eu mesma impunha.

Vi pessoas mudando de carreira, empreendendo, reinventando suas trajetórias. Aos poucos, entendi que minha vida não precisava seguir um roteiro fixo e que eu tinha o poder de fazer escolhas diferentes, de sonhar e buscar aquilo que realmente me fazia feliz.

O Retorno ao Brasil e a Transformação Pessoal

Voltar para casa foi como enxergar o mundo com novos olhos. Já não era a mesma pessoa que partiu cheia de dúvidas e inseguranças. Voltei mais confiante, mais aberta ao novo e com uma certeza: nunca mais deixaria o medo me impedir de viver algo que realmente desejava.

Se antes achava que era tarde para fazer um intercâmbio, agora sei que essa é uma das maiores ilusões que podemos ter. Não existe idade certa para viajar, aprender um novo idioma ou se reinventar. O importante é dar o primeiro passo, mesmo que o medo tente nos segurar.

Hoje, ao lembrar da versão de mim que hesitava antes de embarcar para Cambridge, tenho vontade de dizer: “Vai! Você não imagina como essa experiência vai transformar sua vida.”

E se você, que está lendo isso, também tem esse sonho, digo o mesmo para você: vá! A jornada pode ser desafiadora, mas as recompensas são infinitas.

Se quiser mais conselhos sobre fazer intercâmbio, leia nosso post “Intercâmbio Depois dos 30 Anos: Vale a Pena? Dicas e Benefícios”.

Renata

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